terça-feira, 25 de julho de 2017

Depressão (e MariMoon)

Foto de Jana Souza.

Recentemente vi o seguinte vídeo, em que MariMoon, uma YouTuber e ex apresentora de um programa na MTV até onde me recordo, se propõe a trazer algumas dicas para se superar a depressão... tipo... Como assim? Foi o que eu pensei de primeira vista, mas resolvi assistir até o fim para poder dizer alguma coisa e, para a minha infelicidade, não era um video sobre procurar tratamento ou contando sobre como foi a experiência dela para incentivar outras pessoas. Não mesmo! Era um vídeo de autoajuda bem genérico . Vale pontuar que depressão não é um problema a se superar. Ninguém se torna depressivo porque brigou/terminou com o namorado ou mesmo se mata por isso. Mas fatores externos sob os quais esses estão inclusos colaboram para um estágio maior de depressão ou mesmo suicídio, visto que uma pessoa depressiva pode estar constantemente buscando em um relacionamento uma determinada onda de positividade para se tirar do fundo do poço e a perda dele pode ser quase ou literalmente fatal. O fato é que a depressão não é fácil de se livrar. Não é só ler um livro de autoajuda e descobrir o que fazer. Ao contrário do que acham a maioria esmagadora das pessoas, alguém com depressão tem uma compreensão muito ampla sobre o que deveria fazer. Não são pessoas burras, meramente preguiçosas ou inconsequentes. São pessoas que não veem graça na vida, nem em um futuro - na verdade, ouvir sobre isso só as assusta. Elas sabem que deveriam se preparar para a vida e até como deveriam, mas tudo que fazem é, rotineiramente, tentar sobreviver dentro da própria mente. E, acreditem, não é fácil! Embora você pense que tudo se faz por meio da "força de vontade" , é possível perceber que sem um monte de substâncias no cérebro tanto de humanos quanto de outros animais atividades como comer, beber ou mesmo fazer sexo seriam completamente torturantes e sem sentido. Da mesma forma acontece com a depressão. Quando há uma alteração no funcionamento do seu cérebro, uma queda nos níveis de dopamina, você vai sentir os efeitos disso e viver pode ser algo torturante, embora pra outra pessoa seja algo completamente normal. Quando vi um amigo meu compartilhar sobre o tema não pude deixar de ressaltar que depressão é uma doença muito grave e se queremos ajudar alguém com depressão precisamos entender que é uma doença. Infelizmente, na cabeça da maior parte das pessoas é só uma melancolia passageira e ocasionada. Esse preconceito em cima de quem tem depressão faz com a pessoa se sinta mais culpada por não conseguir melhorar ou como se houvesse um abismo entre ela e o restante das pessoas (por não conseguir ser compreendida). Falo com propriedade, porque é o que eu passo  já faz uns anos (só agora estou buscando melhora) e era como eu me sentia no começo.
Pode até ter sido um vídeo bom, mas não para o público alvo ou o que deveria ser o público alvo: os depressivos. Achei que fosse só mais um vídeo de alguém ignorante - e ignorante não no sentido de arrogante, mas no sentido mais pleno da palavra; o sentido de alguém que apenas ignora ou não pesquisa mais sobre os fatos antes de se manifestar - mas assim que chegou na parte em que ela diz para se forçar a ficar bem, fiquei chocada, de certa forma até mesmo revoltada, porque fingir estar bem é não buscar ajuda. É como ter um câncer e não buscar tratamento, até morrer de repente. Isso realmente acontece. Muitos amigos de depressivos passam a vida sem enxergar nenhum vestígio neles até eles se matarem e ser tarde demais para fazer alguma coisa. Ter depressão não tem nada a ver com isso de copo meio cheio ou meio vazio. Um depressivo pode perfeitamente reconhecer as coisas "boas" que tem a sua volta, mas ser completamente indiferente a isso... e ser indiferente ao que você tem pode ser desesperador, o indivíduo muitas vezes se culpa justamente por não conseguir ficar bem da mesma forma que um ansioso se culpa por ter suas crises e não conseguir simplesmente ficar calmo como o dizem. No mais, tratar depressão como tristeza é querer resolver uma conta de dividir com o método de subtração. 

Deus, satã e a liberdade


Esses tempos tenho lido com constância acerca do satanismo laveyano, ou satanismo ateísta... um nome aparentemente irônico, mas que, como todo paradoxo, me chamou atenção.  Na verdade, já é rotina - acredito, na vida de todo ateu ser chamado assim, embora para o próprio ateu seja incrivelmente bizarro, visto que não acreditamos em deus e nem no diabo, por ser consequência do mesmo. Mas essa vertente filosófica traz a figura do "diabo" da maneira mais enriquecedora o possível... Segundo Lavey, os seguidores dessa doutrina "possuem uma sede por liberdade que deveria ser encarada da mesma forma que o alcoolismo". Não existem promessas espirituais que sejam mais importantes que o próprio espírito para o satanista. Ser satanista é combater a única verdadeira inimiga da humanidade, que é a estupidez. E para se combater a estupidez é necessário que se combata o deus que a faz apologia. Como e onde fazemos isso? Em nosso mundo interior. E 'como' é uma resposta que ainda teremos de encontrar, sozinhos. É incrivelmente patética a ideia de que precisamos de um livro ou qualquer coisa externa para entender algo que só nós mesmos temos acesso, que é a nossa essência, nosso mar de dúvidas, certezas e fraquezas.



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"Você é um real satanista, um satanista de verdade, ou então não é. Se você for, você terá nascido dessa maneira". Penso que ser um satanista é como nascer com um formato diferente para os "espaços" que o mundo oferece e se recusar a ser remontado para sobreviver no mesmo. 

Fui criada em uma igreja evangélica e desde pequena percebia o quanto eu e outras pessoas éramos reprimidas naquele meio. Mas, segundo eles próprios, em prol de um bem maior, um céu, que ninguém nunca viu, mas que, geralmente, costumam acreditar, porque vivemos em um lugar em que é nos dito existir. Quando você tem uma mente aberta ao ponto de pesquisar e perceber a grandeza do universo ou quão diversificado de  religiões esse planeta  é (muitas bem melhores e mais respeitadoras do que a sua), desde os tempos remotos aos atuais, você para pra se perguntar, por que nós somos todos tão arrogantes dizendo que o nosso deus é o único e verdadeiro? Quem disse que é? Um livro milenar assim como tantos outros, que nós acreditamos cegamente, mesmo quando a história tem algo de novo para nos revelar sobre ele.  Essa é a realidade... algo que talvez nunca teremos acesso, mas vamos nos aproximando dela a medida que tomamos percepção das mentiras que nos cercam. É necessário ser questionador o suficiente para se livrar das mentiras, mas quando seremos questionadores se a religião nos ensina que é errado? O questionamento tem sido inimigo do ser humano, porque as mentiras as vezes são agradáveis demais para nos livrarmos dela. O que é uma vida terrena de 80 e tantos anos perto de uma eternidade? Na mente de um crente, nada. É por isso que eles vivem como se a existência espiritual fosse ser comprada com sua existência empírica, aniquilando a mesma. A religião é como uma droga que tem mantido os homens de pé e conformados em meio a uma sociedade medíocre. É uma droga que não aceita que qualquer outra tome seu lugar. A dor e as fraquezas advindas do ser humano abrem as portas para a religião e a religião alimenta a alma como a refeição gordurosa alimenta o corpo.
Satã, aos olhos de um crente, simboliza a rebeldia... parece que perdemos o reconhecimento de nossa própria liberdade e a chamamos assim, a tratamos como algo ruim, mundano... E por que ser mundano é algo tão ruim? A natureza do mundo é bonita e nós fazemos parte dela. Por que não dizer que ela é o nosso "deus"? E se ela é encontrada em nós mesmos, então nós o somos e a ela devemos seguir... Nossa essência humana não deve ser jogada no lixo. Somos humanos e, antes disso, animais. Humanos têm sapiência, animais instintos.  Não é irônico serem duas coisas relacionadas ao questionamento e a tudo que a bíblia dita como pecado? As religiões cristãs nos ensinam que a negação do próprio ego nos leva a evolução. Mas se o ego é, como consta o dicionário, o núcleo de nossa personalidade, então essa afirmação é falsa, visto que não se evolui sem um núcleo, um ponto de evolução.
Abraçar o ego não é aceitar qualquer tipo de comportamento proveniente de si mesmo, mas entender a si mesmo e buscar sempre se aprimorar para o próprio bem. E é, apesar de tudo, nunca se forçar a esquecer e perdoar algo e sempre entender perfeitamente seus motivos de fazer isso ao invés de se culpabilizar por seguir a lei da física que se aplica em nós (por sermos um corpo físico) que é a da ação e reação. Veja bem; se alguém te irrita, a raiva é natural e não abominável.
Ser satanista não é sair por aí, sacrificando animais inocentes em rituais. Mas, com certeza, é ser bem mais empático do que o deus que pediu o filho de um 'servo' e logo em seguida, uma ovelha para reafirmar a própria grandiosidade, quando, por ser um deus perfeito e onisciente, ele nem deveria se preocupar com isso. Algo tão fútil que até mesmo um ser humano (que se preze) é incapaz de fazer.
Aliás, as atitudes cruéis de deus são sempre tidas como "justas" e
atitudes justas humanas como cruéis... Por que? Sabe, as vezes penso que as pessoas são realmente bem controversas. Uma hora se aprisionam numa bolha de baixa autoestima, outrora estão adorando um deus criado à sua imagem e semelhança. No fundo talvez não vivamos sem nosso lado cruel, por isso precisamos de um ser santo o suficiente para que esse lado seja entregue e camuflado.